Amizade e o Sexo
A questão é: se é possível haver uma amizade, sem interesses, entre um homem e uma mulher? A resposta não se resume num sim ou num não, já que são várias as experiências em que a amizade durou a vida toda e outras em que ela não foi mais possível, a partir de um determinado momento.
Muitas pessoas, que começaram uma amizade muito grande e profunda, de amparo e cumplicidade mútua, sem nenhum interesse de envolvimento amoroso e/ou sexual, levaram este tipo de relacionamento durante a vida toda. "Amigos verdadeiros são como irmãos", ouvimos dizer com freqüência.
O que pode colocar a amizade em jogo é o despertar da atração sexual. Esta atração pode ser desencadeada por uma carência afetiva momentânea por parte de um ou dos dois. Quem não gosta de receber colo de alguém muito querido, que o compreende e o ampara, naqueles momentos de solidão e sensação de abandono? A partir daí começa a descobrir que aquele amigo têm algo a mais que, até então, ainda não havia chamado a atenção.
Comum também é vermos as pessoas confundirem a cumplicidade da amizade com paixão. Uma senhora, hoje com 64 anos, casou-se com aquele que ela sempre identificou como seu melhor amigo. Quando o conheceu tinha 17 anos, vivia sob a severa repressão dos pais, e foi ele, com todo seu jeito fraternal, amigo e compreensivo, quem a ajudou a se desgarrar da família, a tomar rumo próprio e a descobrir a vida "lá fora". O amigo se transformou também num amante, apesar de nunca ter despertado nela desejo sexual.
Quando a paixão perdura e vira amor, casamento, união, tudo bem. O problema é quando a euforia da atração vai embora e um passa a morrer de vergonha do outro, como se tivessem cometido o maior engano (ou a maior estupidez) do mundo. A amizade acaba indo por água abaixo e a atração sexual é vista como uma grande vilã, capaz de acabar com os sentimentos mais nobres de um relacionamento "tão puro".
Temos que nos lembrar que a atração sexual pode aparecer sempre que nos envolvemos com pessoas do sexo que nos desperta desejo. "Pode aparecer" não quer dizer que "apareça". E, se aparecer, não quer dizer o fim do mundo. Saber administrar nossos sentimentos é um aprendizado que começa desde o nosso relacionamento com a mãe e o pai, lá no início da vida. Inclusive, vivências afetivas deveriam nos ensinar a perceber quando vale a pena arriscar e quando é melhor sublimar nossos desejos. Ou seja, o ideal é desenvolver a capacidade de perceber o que move a nossa aproximação em direção a alguém e pararmos de ficar nos culpando quando o sexo entra no jogo.
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